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espreito. espreito-te. os teus dedos são pincéis que inscrevem segredos de amor no meu corpo. invisíveis para mim, indecifráveis para ti. letras como castelos, letras como casas, letras como nós. um sonho, este. de sépia são feitas as nossas noites, eu imóvel, serena como um modelo que captas com o traço. desenhares-me é escreveres um romance só teu. sou o teu pergaminho, a tua tela, a pele. espreito. espreito-te. quando terminarás essa viagem através dos meus oceanos? quando os teus secarem em mim? ah amor, eu permaneço quieta, muda e absorta, um arrepio só de cada vez que o calor da ponta dos teus dedos se aproxima com a gentileza e a frescura de uma tinta-da-china a serpentear o ar. onde pararás tu? em que cova do meu ombro? em que músculo saliente? as minhas costas altivas porque cristalizadas na expectativa de mais uma letra tua. sabes o alfabeto de cor, aquele que nunca vi, que nunca conheci. na carteira da infância ensinaram-me a exercitar a mente: o corpo não era para se sentir.

quando se sente o corpo, amor, é porque ele dói. quando se sente o corpo, amor, é porque ele está fraco. quando se sente o corpo, amor, é porque o requebro do desfalecimento fá-lo sair de nós.

esta vontade de escrever um livro foram as tuas caligrafias que ma despertaram. passeias com elas por mim toda, rosa-dos-ventos da ficção que inventas em cada prega, em cada ruga, em cada pedaço alisado. ou em convulsão. e eu, de matéria, passo a ilusão, de carne, passo a sopro, de sangue, passo a água. como me consumirei além do que em mim inscreves? como serei para além do que em mim digitas?

aguardo entre o inquieta e o resignada o findar de um livro de que o nosso amor vai preenchendo as páginas. e quando já não sobrar mais centímetro onde escrevas em mim, abandonas-me? ou exibes-me nua pelas ruas, atrelada a ti pelo magnetismo do teu olhar?

ou dás-me finalmente a mão? e os teus dedos serão os meus, e as tuas tintas as minhas, e o teu corpo o meu papel?

ah, serva tua me quero para que servo meu venhas a ser: nunca descansar deste bailado esgotante da sofreguidão do romancista.


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vá: escreve-me mais. quero vir-me no fim dessa nova linha.
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