Tocar as margens desta página
deste corpo
como se existisse já o corpo
sem caminho
acender palavras trémulas

como se houvesse lâmpada
atravessar-te o corpo unânime
como se o visse já sob o relâmpago

dizer-te um a um
os dedos das carícias
num enxame de palavras quase vermelhas

quase
como se língua falasse sob o trovão tremendo
dizer-te esta laranja incandescente
este músculo que desce
em água doce como se te visse já e te tocasse
a pele sob esta chuva escura atravessar
a espessura
deste papel
com letras como se as letras fossem feridas
no teu corpo desenhar esse gesto despenteado
como se o corpo rolasse sob
as palavras mesmas
como se o caminho se abrisse tão perto da tua boca
É como se te respirasse se eu falasse

como se respirasse no caminho
como se estas palavras fossem já
esse caminho
para o teu corpo
como se houvesse um caminho
se eu falasse

se eu falar

Vejo-te imagem só
mas não o corpo
ou nem a imagem vejo –
mal respiro
E no entanto uma palavra ascende
O caminho é este
através
das palavras do teu corpo
são estas
as pedras
vermelhas
negras

sob a chuva
estas mãos que buscam
o caminho da espessura
são o caminho já
tão perto da tua boca
da tua língua acesa

Se eu falar
é este o caminho dos teus cabelos
da tua boca
cada palavra treme
com o temor dos teus pulsos
com a loucura feliz
desta mão que ascende
sobre o teu corpo
e desce
ao fundo
à água
do teu sexo

e beijo o teu nome
entre os teus dentes
.

3 comentários:

observatory disse...

continua linderrimo

sou eu disse...

:)


obrigada

FC disse...

RECURSO/NATURAL

as palavras uma necessidade,
o corpo uma fonte
quase inesgotável vive
como um recurso
natural

deixo ficar aquelas
enquanto este
sofre uma erecção
libertando as mãos do chão

no entanto,
como um símio,
descasco uma banana

apetece dizer o prazer
onde ele (se) pratica

meu verso entregue